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POSTUROLOGIA

Artigo

        escrito em 25/05/2020 

 

 

 

 


 
 

A ciência e disciplina que estuda a postura em todos os seus viés, inclusive as relações entre as várias posturas corporais e os distúrbios funcionais incluindo algumas patologias, é denominada Posturologia.

 

Sabe-se que a postura é um conjunto de interações entre o sistema músculo-esquelético, sistema visual, sistema vestibular, sistema visceral, sistema proprioceptivo e tegumentar, onde vale ressaltar a importância do sistema manducatório (dento-oclusal) como um potencial obstáculo quando em discrepância.

Toda essa comunicação e interdependência tem o objetivo de manter o corpo em equilíbrio durante os movimentos dinâmicos e a postura estática com o mínimo gasto de energia possível (fator vital primitivo) para vencer a constante ação da força da gravidade e o constante ajuste do equilíbrio em todos os movimento corporais inclusive parados em ortostatismo. Esse sistema bem equilibrado busca compensar e se adaptar protegendo as estruturas corporais contra sobrecargas, stress mecânico e danos que possam vir resultantes das forças físicas e biomecânicas inerentes ao nosso corpo diariamente, sejam elas do meio externo ou interno.

 

Temos então como resultado a posição assumida pelo corpo em relação ao mundo externo e a auto-percebida, a resposta de controle do tônus postural em relação à gravidade e ao ajuste de equilíbrio vigente frente ao meio ambiente externo e interno tanto de maneira estática quanto dinâmica.

A Postura pode ser resumida como a posição do corpo no espaço que é controlada por um conjunto de estruturas anatômicas complexas e altamente funcionais tendo o áreas centrais (SNC) como processadores e moduladores desse sistema. A manutenção e o controle da postura resultam de uma constante interação entre sistema músculo-esquelético, os olhos, o labirinto, a pele e o sistema nervoso central (SNC); nos dando condições de realização das tarefas mais básicas de sobrevivência como caminhar até as mais complexas.

As vias aferentes e eferentes do sistema nervoso central fazem a comunicação entre as estruturas sensitivas chamadas de captores (principais: os pés, a pele, os olhos, o labirinto), os centros de controles centrais (tronco cerebral, cerebelo e áreas do córtex) e as estruturas musculo-esqueléticas, mantendo o corpo em um estado de equilíbrio constante. 

Todo esse sistema recebe o nome de Sistema Tônico-Postural (STP).

Há um constante aumento de estudos que trazem resultados confirmando a importância do sistema estomatognático sobre a postura e vice-versa, alguns estudos questionam a correlação. Diversas pesquisas científicas e a Conferência de Consenso de 2009 (Symposium: Consensus Conference Posture and Occlusion) mostram que a soma de observações anatômicas, clínicas e experimentais são a favor de uma correlação entre distúrbios posturais da coluna vertebral e Distúrbios da ATM oclusais (CIANCAGLINI, R; CERRI, C et al.; 2009)

“Nos seres humanos, três curvas fisiológicas equilibram a coluna vertebral: a lordose cervical e lombar convexa para a frente, e a cifose dorsal côncava para a frente. Essas curvas são formadas e estabilizadas em torno de 5-6 anos, após maturação proprioceptiva do pé. As três curvas manter o equilíbrio e fornecer suporte e resistência contra pressões longitudinais. A curva mais importante é a lordose lombar, posteriormente côncava, formada por 5 vértebras começando do sacro. A curva torácica é formada por 12 vértebras e forma uma concavidade anterior chamada cifose. As 7 vértebras da coluna cervical formam a lordose cervical na concavidade traseira. O desenvolvimento completo da função postural ocorre por volta dos 11 anos e depois permanece estável até os 65 anos.” (CARINI, F; MAZZOLA, M; FICI, C; et al.; 2017).

Fatores neurofisiológicos, biomecânicos e psico-emocionais podem influenciar desestabilizando a postura ideal. Quando a Postura é Funcional ela não resulta em dor, o tônus ​​muscular é normal, não há tensão muscular ou desequilíbrio das cadeias cinéticas. Quando é caracterizada como não funcional as alterações posturais vem acompanhadas por sintomatologias de dor muscular, distonia, tensão muscular anormal, desequilíbrio das cadeias cinéticas entre outros fatores. A patologia postural não é uma doença muito específica com uma cura específica, mas é um conjunto de sintomas, os principais são representados por dores de cabeça, dores no nível da coluna vertebral (como dor no pescoço e dor nas costas), dor nos braços e pernas, dificuldade em realizar atividades físicas e diárias. Anormalidades posturais associados a esses distúrbios pode resultar de várias fatores que incluem lesões traumáticas patogênicas, processos inflamatórios, deformidades congênitas ou adquiridas e processos degenerativos. (CARINI, F; MAZZOLA, M; FICI, C; et al.; 2017).

A análise, avaliação e diagnóstico postural dependem de parâmetros de vários vetores como: testes clínicos; avaliação estática e dinâmica; Baropodometria e Estabilometria (através de uma Plataforma computadorizada repleta de sensores  que trará tradução das oscilações mecânicas do gravicentro fisiológico humano em sinais elétricos, que são amplificados, gravado e analisado); exames de imagem; Spinometria, entre outros. 

O tratamento se baseia na individualidade, sendo que a sintomatologia ou as alterações musculo-esqueleticas-posturais, em quase totalidade são resultantes de alterações aferentes em um ou vários componentes, incluindo também as áreas de processamento e controle centrais do SNC. O tratamento deve ser interdisciplinar, haja vista que o sistema em disfunção uma vez identificado pode ser direcionado para o profissional capacitado ou especialista naquela estrutura ou órgão em específico, por exemplo: Oftalmologista para alterações visuais, o dentistas para correções dento-oclusais, especialistas em Palmilhas para tratamento dos pés e pisada se estendendo para diversos e importantes profissionais que vão agir nas adaptações do sistema musculo-esquelético corrigindo e dando um novo modelo, suporte, fortalecimento e estabilização postural adequada àquele paciente, assim como no processo de avaliação, identificação e em muitos casos no tratamento dos captores necessários quando capacitados com conhecimento e know-how em Posturologia. Esses profissionais incluem: Fisioterapeutas, Osteopatas, Educadores Físicos, Terapeutas Manuais, entre outros.

No Brasil e no mundo existem escolas de formação em Posturologia, clínicas e consultórios com profissionais especializados, eventos, congressos e organizações como a ABP - Associação Brasileira de Posturologia.

No modelo neurofisiológico e biomecânico compreendido pela Posturologia, profissionais de diversas áreas das ciências biológicas se incluem no estudo e no exercício da Posturologia desde os campos de pesquisas e acadêmicos à prática clínica como Fisioterapeutas, Osteopatas, Dentistas, Oftalmologistas, Ortopedistas, Pediatras, Otorrinolaringologistas, Fonoaudiólogos, Podólogos, Educadores Físicos, entre outros. O profissional que se especializa em Posturologia de forma acadêmica e clínica é intitulado de Posturólogo.






 

Referências Bibliográficas

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Ítalo Ferreira Rocha 

Fisioterapeuta e Posturólogo BR

Formação em Osteopatia pelo IDOT

Especialista em Traumato-Ortopedia Funcional 

Formação em Podoposturologia e Posturologia Integrada

Vice-Presidente da Associação Brasileira de Posturologia

Professor de Reabilitação Vestibular na Escola de Posturologia Integrada

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